12.6.11

DEPENDÊNCIA



Vivo no futuro, não consigo deixar o passado, o presente é apenas o tempo da minha passagem.

Planos, projectos, sonhos e alucinações são a constante das minhas memórias. Planeio o futuro sem rigor e na base do sonho imagino os caminhos a percorrer para afastar o passado. Esgoto-me nos outros e canso-os com os meus projectos.
Se hoje fosse amanhã saberia o que fazer, se hoje fosse ontem teria feito. Hoje não posso fazer, porque tenho de pensar.
Não vivo de memórias, tenho-as presentes em mim, são as referências do percurso que teimo em pensá-lo difícil.
A fugacidade da felicidade está no presente, mas esta, apenas alcanço-a nos momentos de embriaguez. Loucura, paixão, droga, trabalho, são os temas da fugacidade perfeita para afastar as teimosias do costume.
Todos achamos saber o que devemos fazer e de certa forma trabalhamos para concretizar esse dever. A monotonia do sonho e o direito à rotina faz-nos pensar diferentes do passado.
Os outros vêm e vão, os que ficam, ficam porque também ficaste. Se ontem tivesse partido, hoje seriam outros; se amanhã partir, levarei comigo os que não querem ficar; se hoje ficar, ficarei com teimosias e com ciúmes de quem parte.
A fuga é o mais desejado. Apaixonas-te na aventura deixas as memórias, surpreendes-te nas novidades da rotina dos novos ‘outros’. O tempo presente, é passado a perceber o meio por onde te deslocas, apuras os teus sentidos e esqueces-te do amanhã. Vives satisfeito, despreocupado.
Mas o tempo passa, a inserção é necessária. Um dever que o futuro reclama, um direito que desejas no teu presente e começam as preocupações. Preocupas-te em compreender as regras do novo jogo; preocupas-te em achar ‘outros’; preocupas-te no sucesso das tuas escolhas; preocupas-te e...a fuga terminou. Estás no inicio do teu ciclo. Game Over! O teu dia deixa de ser um mergulhar na novidade, os teus olhos não conseguem saborear as cores do presente. Perdeste e sentes-te perdido.
Após o fracasso da fuga, o mais desejado é o retorno ao passado. Apesar de derrotado achas-te diferente, capaz de voltar a sentir. Voltar para o passado será viver um novo futuro, pensas-te capaz de corrigir a rotina do pensamento. O retorno é mais fácil, já conheces o meio, facilmente reencontras-te com os ‘outros’ que não quiseram partir. Achas-te diferente; sentes-te diferente; queres ser diferente; por isso impões algumas vontades, consegues viver na loucura das tuas vontades e a tua sobrevivência depende do grau de loucura. Quanto mais ausente, mais presente a vontade de viver. Foges dos erros passados ainda presentes, explora-te e vives alienado na procura de todo o que te faça sentir.
O retorno é uma fuga disfarçada. Drogado da estupidez de querer mudar o meio conhecido.
Viver em fuga seria o recomendado. Não terias passado e o futuro seria o presente.
Viverias para viver sem teres o que recordar, os laços com outros seriam gestos de passagem e serias conhecido, mas nunca reconhecido. Cidadão sem identidade deambulando na fantasia do momento.
Contudo, a constante não é apenas a repetição do mesmo resultado. A repetição do resultado aparentemente aleatório pode ser a constante. A rotina de pensamentos, não se anula na repetição das reflexões, mas sim modos de reflectir. Pensar diferente implica renovar modos de reflexão. A ignorância do desconhecido não é sinónimo de novo. A descoberta nem sempre é surpresa e os momentos de embriaguez poderão resumir-se a instantes de admiração, ou simplesmente a nada.
A monotonia dos modos de reflectir combate-se com a partilha de pensamentos. Os laços são necessários, a renovação depende do conhecimento diferente. Vives na dependência, da fuga, dos laços, do passado e do sonho.
Pensar é a minha dependência. Gostaria de culpar as vassalagens físicas, mas não seria sincero.